Diário de Moscou XIV


Procuro desprender-me, um instante, da imagem de Berlim, e perceber sem influências a Moscou invariável. Isso, porém, parece impossível.

Não apenas varia a minha percepção de uma vida em Moscou, mas varia também a própria variação.

Então, como julgar a respeito de uma vida em Moscou?

Não sei ainda se Moscou é uma só cidade ou tantas quantas são as minhas impressões variantes. Nem se há de fato uma vida em Moscou.

Os meus hábitos de pensamento e de afetos, no entanto, exigem que eu julgue. Eles imperam: – julgue, porque uma vida está em jogo!

Quando, como atitude filosófica, o correto seria cultivar o desprendimento do desejo em relação ao desejo de julgar e a suspensão momentânea de todo juízo a respeito de uma vida.

Esclareço, ao final dessa página de diário, o que pode não estar claro: uma vida não é uma vida individual, mas um gesto engajado em múltiplas relações.


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