A memória dos que vivem à sombra dos monumentos, no processo de seu recalque, é encoberta por camadas e camadas de terra e de imagens da monumentalização.
Um soterramento material, dos corpos de sombra sob à terra, se segue a outro, na memória.
Logo nos esquecemos dos soterrados. A nossa memória deles logo é soterrada pelas imagens da reconstrução do monumento e, conseqüentemente, pela reconstrução da sua sombra.
Quando uma parte do monumento soçobra, seus restos encobrem aqueles que vivem à sua sombra. O grito deles, por um momento, sai da sombra e da terra, para logo calar-se, sob a terra, e na memória.
Enquanto a catástrofe não for definitiva, ainda não é aquele ponto da narrativa, que finalmente aponta para o seu desfecho. Por isso, dito propriamente, ainda não é catástrofe. É apenas um ajuste do monumento às suas novas condições e, talvez, um aprofundamento dos seus alicerces, para que possa se erguer mais alto.
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