Às vezes acontece que uma intuição intelectual, cuja originalidade e fulgor constituem algo central para um determinado pensamento, já havia aparecido, embora com brilho menos intenso e de forma periférica, em um momento recuado da história.
Por exemplo, a proposição essencial da semântica de Wittgenstein – "O significado de uma palavra é seu uso na linguagem"(Die Bedeutung eines Wortes ist sein Gebrauch in der Sprache*) – aparecera, em uma página pouco comentada de Spinoza (300 anos antes), quase na mesma formulação: "As palavras possuem um determinado significado somente a partir do seu uso" (Verba ex solo usu certam habent significationem**).
Mais interessante do que analisar o que distingue ou aproxima uma da outra essas duas proposições, é pensar nisso para o que apontam repetições desse tipo. Tratam-se de retomadas inconscientes? De releituras? De desdobramentos labirínticos do pensamento sobre si mesmo? Ou de verdades a-históricas?
Não seria um enorme prazer descobrirmos enfim verdades a-históricas?
(*) WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophische Untersuchungen. Frankfurt: Suhrkamp, 2003. §43.
(**) SPINOZA, Benedictus de. Tractatus theologico-politicus. Hamburgi: apud Henricum Künraht, 1670. Cap. XII, p. 146. Texto disponível on-line.
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