Os outros povos [os bárbaros] tinham, aos olhos dos gregos, um traço comum: eles eram todos e sempre interessados, visando ao útil. Diferentes deles, os gregos se reconheceram capazes, eles e apenas eles, de um interesse puro pela verdade. [...] O “amor do saber” por si só é a marca particular dos gregos.*
Se esse amor da verdade (de uma verdade que esteja
acima da utilidade) fosse verdadeiramente grego, o pensamento de Spinoza seria bárbaro
(ou oriental, como chamamos hoje o que está desvinculado do racional ocidental).
Em Spinoza, a verdade não se desvincula
disso que nos é útil, ela não está em ruptura com ele; pois, se isso que inteligimos
é o verdadeiro, também é isso que é útil para nós, porque nos causa alegria (conferir
Ética III prop. 59) e expulsa verdadeiramente a melancolia.
(*) CONCHE, Marcel. Anaximandre: Fragments et témoignages. Paris: PUF, 1991. P. 6.
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