Família, velho lar de nossos bens e males


Assim como especulava com os títulos de suas empresas, espalhando por toda parte um punhado de boatos, para sobrevalorizá-las, a burguesia dos novecentos, na sua afirmação histórica, sobrevalorizava a família (como condutor, por hereditariedade, ao mesmo tempo, de cargas biológicas e morais de fundo religioso). É o que fica patente no diálogo que se segue.
OSVALD – Era um dos grandes médicos daquele lugar. Foi preciso descrever-lhe o que eu sentia; depois, ele começou a me fazer uma série de perguntas que me pareceram sem qualquer relação com o meu estado; eu não percebia aonde ele queria chegar.
MADAME ALVING – Continue.
OSVALD – Ele acabou me dizendo: Há em você, desde o seu nascimento, alguma coisa de “vermoulu”; foi a expressão que ele usou.
MADAME ALVING, escutando com uma atenção concentrada – O que ele queria dizer?
OSVALD – Era isso precisamente o que eu não compreendia, eu lhe pedi para que se explicasse mais claramente. Ele disse, então, o velho cínico... (Fechando o punho.) Oh!... 
MADAME ALVING – Ele disse?
OSVALD – Ele disse: Os pecados dos pais recaem sobre seus filhos. 
MADAME ALVING, levantando-se lentamente – Os pecados dos pais...!

IBSEN, Henrik. Les revenants [1882]. Trad. Moritz Prozor et alii. In: Ibsen: Drames contemporains. La Pochothèque. Paris: Librairie Générale Française, 2005. P. 333. 

Nenhum comentário: