A janela para a rua
Alguém que viva abandonado e gostaria, entretanto, aqui ou ali, de estabelecer alguma relação, alguém que, face às mudanças que lhe impõem as horas, as estações, o trabalho ou todas as outras circunstâncias, quer encontrar um braço, um braço qualquer em qual se apoiar – este alguém não poderá se passar por muito tempo de uma janela para a rua. E mesmo se ele está a ponto de não buscar mais nada, mesmo se ele nada mais é do que um velho homem rendido de fatiga, que se apóia à sua janela e passeia seus olhos entre o público e o céu, a cabeça um pouco jogada para trás, sem querer mais nada, os cavalos o puxarão, entretanto, em seu cortejo de carros e barulho, para mergulhá-lo enfim no concerto dos homens.
KAFKA, Franz. La fenêtre sur rue. Trad. Claude David. In: Oeuvres completes II. Bibliothèque de La Pléiade. Paris: Gallimard, 1980. P. 3.
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