Diário de Moscou XVII


Perguntaram-me como eu me sentia (ou teria sido uma voz interior?).

– Sinto uma tristeza infinita, respondi, que se refere, não a um objeto atual, mas à poeira cósmica resultante de um acontecimento fundamental que se esfarelou, perdendo sua capacidade de agir sobre o universo, há muito, muito tempo atrás.

...e lembro-me de Benjamin: 
“Quieto, vamos”, disse ela, acariciando-lhe a cabeça. “Quieto. A Dilsey está com você.” Mas ele berrava devagar, impotente, sem lágrimas; o som desesperado e denso de todo o sofrimento mudo que há sob o sol.*
...e, novamente, de Benjamin:
Ele tem seu rosto voltado na direção do passado. Ali, onde nos aparece uma cadeia de acontecimentos, ele só vê uma única catástrofe, que, sem cessar, acumula ruínas sobre ruínas, e as precipita a seus pés.**








(* ) FAULKNER, William. O som e a fúria. Trad. Paulo Henrique Britto. São Paulo: Cosac Naify, 2012 [1929]. P. 348.

(**)  BENJAMIN, Walter. Sur le concept d’histoire [1940]. Trad. Maurice de Gandillac, revista por Rainer Rochlitz. In: Oeuvres III. Paris: Gallimard, 2000. Tese IX. P. 434.

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