Pigmalião ou: – por que os artistas amam suas obras?


Na sua resposta à questão do título, Aristóteles explica o amor à existência (o conatus de Spinoza) não como conservação, mas como desdobramento da potência.

Por que os artistas amam suas obras?

Ora, diz Aristóteles, os artistas amam suas obras porque:
• a existência é para todos os homens digna de ser escolhida e amada [todos amamos existir];
• nós existimos, diz Aristóteles, por razão da atividade (viver e agir) [existir é atividade; e a atividade é coextensiva com o existir];
• [logo: todos amamos a atividade];
• a obra (ergon) é um produto da atividade (energeia);
• [se amamos a atividade, amamos o que lhe é semelhante, e seus desdobramentos se lhe assemelham – assim, amamos o que a nossa atividade produz, amamos as nossas obras];
• logo, todos amamos as nossas obras (porque amamos a existência).

E Aristóteles complementa: “e isso tem raízes profundas na natureza das coisas, pois o que o artista é em potência, sua obra o manifesta em ato”.

Nisso tudo, Spinoza apenas corrigiria esta noção de potência em Aristóteles. A potência das coisas da natureza, em Spinoza, não se opõe ao ato, como em Aristóteles. A potência, em Spinoza, é sempre atual. Ela é o que ela é.


ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Col. Os Pensadores. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornheim a partir da versão inglesa de W. D. Ross. 4 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. IX, 7, 1168a5-a10. P. 167.


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