Os racionalistas se afirmaram
contra a superstição. Disseram aos
supersticiosos: _ vocês possuem a opinião da religião de que Deus é isso ou aquilo, mas na verdade Deus é necessidade, eternidade e
infinitude.
Entretanto essa afirmação, que se faz
contra alguma coisa, faz com que os racionalistas, de certo modo, aceitem a superstição, como uma
projeção confusa da verdade sobre o plano do conhecimento próprio à imaginação e à opinião – o único
gênero de conhecimento a que pode aceder o ignorante.
O sábio aceita a superstição como uma espécie de sabedoria para ignorantes. Apesar de confusa, a religião, sendo uma vulgarização da metafísica, conduz, pelos caminhos da confusão, o ignorante a crer em Deus e a agir conforme essa fé, o que pode, dentro de certos limites, convergir com o agir racional.
Também podemos, por outro lado, pensar invertidamente essa relação entre a ideia confusa de Deus e a verdadeira.
Então, seriam os
supersticiosos que aceitariam a metafísica, como uma
projeção sobre o plano da razão das verdades da
religião. Nessa inversão, é o
supersticioso que aceita a metafísica como uma espécie de religião para incrédulos. Apesar de falsa em seus princípios, a metafísica, sendo uma humanização da religião, conduz, pelos caminhos da confusão, o sábio a conhecer a Deus e a agir a partir desse conhecimento, o que pode, dentro de certos limites, estar conforme com a prática religiosa.
Sábios
metafísicos e religiosos estão encerrados na mesma grade arqueológica. Em uma outra grade está o fim da metafísica e a morte de Deus.