Uma nota preliminar a “Cancioneiro”. Uma única página. Para um certo Fernando Pessoa, numa concepção próxima a dos clássicos, estamos sempre diante de duas paisagens (e, importante, ele não considerava isso uma metáfora): uma exterior, relativa a nossos sentidos externos, e uma interior, relativa a nosso sentido interno. Quase kantiano. Digo quase, porque para Kant, o sentido interno remete esteticamente ao tempo, enquanto esse Pessoa fala da percepção do estado de alma como percepção de uma paisagem, que é portanto percepção de um espaço. Essas paisagens, a interna e a externa, interferem uma na outra, misturam-se de tal forma que a separação entre espaço interno e externo se dilui.
PESSOA, Fernando. Obra poética. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005. p. 101.
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