Vivo, ou envelheço, no ponto-limite de uma linha esticada imaginariamente a partir de um outro ponto, este real, segundo a ideia arbitrária de um certo habitante da Terra. Na ponta do real, diríamos. Um passo além, e caio no inexistente.
Em geral, tomo um grupo de palavras estranhas, sonoras, como se fosse o convite erótico de uma porta semiaberta por um amante desconhecido. Sem o desejo de se conter, meu corpo se expande por ali, como um líquido, ou melhor, um gás. Não sai de onde está, mas vai através da abertura também, perdendo sempre algo da sua densidade. Cada vez mais gasoso.
A definição pode até aparecer no início, como na Ética de Spinoza, mas ela só se deixa alcançar quase no final (quase – porque não há fim). É, como a semente, a resultante última do processo que ela inaugura.