“As mudanças na natureza, apesar de serem infinitamente diversas, mostram apenas um círculo que sempre se repete; na natureza, nada de novo acontece sob o sol e, por isso, o jogo multiforme das suas configurações traz consigo o tédio”.*Só o espírito e a sua história (e o Cristo tem parte nisso) nos salva do tédio, e rompe o circuito fechado da natureza.
Nesse sentido, pode-se dizer, Darwin é o Cristo da natureza. Ele a salva desvelando a sua historicidade constitutiva da qual nós fazemos parte.
(*) HEGEL, G. W. F. A razão na história: Introdução à filosofia da história universal. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1995 [1822-1830]. P. 127.
3 comentários:
No entanto, é preciso não contrapor espírito e natureza, afirmaria Hegel, uma vez que o espírito nada mais é que a natureza desdobrada, refletida.
Ok.
Nada está fora da natureza (nem o espírito).
E nada de relevante (i.e. de substancial, efetivo e historial) está fora do espírito.
leon, vejo que moscou revoluciona teu blog! viva a revolução, camarada!
quanto à história da natureza, sinto te informar, mas ela existe, ou melhor, existiu. dê uma lida no seguinte trecho da enciclopédia sobre geologia:
Formely, history applied to the earth, but now it has come to a halt: a life which, inwardly fermenting, had Time within its own self; the Earth-spirit which has not yet reached the stage of opposition—the movement and dreaming of one asleep, until it awakes and receives its consciousness in Man, and so confronts itself as a stabilized formation. … But in this sequence [i.e., formação geológica da terra] there does lie a deeper meaning. The meaning and spirit of the process is the inner coherence, the necessary connection of these formations, and nothing is added to this by the succession in time. The general law of this sequence of formations can be recognized without any reference to the historical aspect; that is the essential point—this is the rational element which alone has interest for the Notion… (http://books.google.de/books?id=pQnOQlowPKMC&pg=PA282)
na época de hegel era uma posição razoável esta de dizer ter havido uma evolução apenas num passado remoto; outros teóricos/cientistas também defendiam isto. o que tanto a geologia quanto a biologia viriam a mostrar posteriormente é que estes processos evolutivos continuam ainda hoje. ao que eu saiba, hegel não chega a considerar explicitamente a possibilidade de ter havido uma evolução das espécies animais; mas poderia muito bem ter adotado isto, dado que era comum na época a ideia de uma evolução animal que culminou no homem como o ser vivo mais complexo.
de todo modo, nem o darwinismo nem qualquer teoria atual das ciências naturais pôs em cheque o ponto central de hegel. mais adiante ele diz:
We do not, therefore, see in Nature the coming-to-be of the universal; that is, the universal side of Nature has no history. The sciences, political constitutions, etc., on the other hand, have a history, for they are the universal in the sphere of the Mind
posto de outro modo: as leis da natureza não têm história, as leis do espírito sim. por mais que as espécies animais não sejam fixas como tradicionalmente pensadas (lembre que "espécie" é uma variação da "forma"/"ideia" aristotélica/platônica), os princípios postulados pelo darwinismo de mutação e seleção populacional, que regulam a evolução das espécies, são atemporais. toda ciência natural tenta encontrar leis atemporais. o erro tradicional/hegeliano está em considerar as espécies como os "universais" dos animais, quando as espécies são na verdade particulares/contingentes. diríamos hoje que as leis da genética é que são verdadeiramente universais (dado que são químicas e naturais).
claro, a tese hegeliana assim é que os universais do espírito variam com o tempo; nisto ele vai contra todo naturalismo de certas ciências sociais. são estes universais contingentes? em certa medida sim. mas hegel quer ver uma necessidade profunda na sua evolução, que ele pretende mostrar na filosofia da história. que necessidade é esta? a liberdade.
abraço de ogro, ou melhor, de urso berlinense.
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