Diário de uma viagem VIII


O meu motivo consciente para essa visita a Moscou é a avaliação de minha adesão ou não ao Partido. Mas eu sinto que, no fundo, embora eu não as possa manifestar, as causas da minha viagem são outras e não são tão minhas.

Aquela frase, “A viagem rejuvenesce as coisas, e ela envelhece a relação a si mesmo”, não sai da minha cabeça nem do meu coração. O meu sentimento de estranhamento, comigo e com a cidade, alienante, não cede sem retomar terreno. Por vezes, volta, como a pontada de um recordista, na sua maior intensidade. Chega, pelo estreitamento que provoca, a fazer arder o peito.

As esquinas, os prédios e os comportamentos moscovitas são absolutamente novos; por outro lado, a minha dor mostra-se mais velha; é uma dor de princípio, o horror de uma imaginação infantil.

O anúncio da chegada de Asja, em menos de 48h, não é, não imediatamente, para mim, um alívio. Embora eu a queira muito ao meu lado, e deseje ardentemente a ocasião e o bem de um beijo, como aqueles que trocávamos em Berlim em toda intimidade e conforto emocional, a visita anunciada de Asja aumenta a minha ansiedade. Coloca-me um desafio que abala o meu precário equilíbrio, assim que eu o reconquisto. Será possível eu me sentir bem com ela? Será possível ela se sentir bem comigo, em Moscou? O que será que ela pensa, apesar de eu não cogitar lhe perguntar algo sobre isso, da minha eventual adesão ao Partido?

Rapidamente, é curioso, deixa-se o centro de Moscou, mesmo a pé. Depois de alguns poucos quilômetros, a cidade, quer dizer, seu centro, desaparece literalmente aos nossos pés. O programa prevê a construção de moradias e a complementação da urbanização. Por enquanto, parece apenas uma promessa a se realizar num futuro distante. É verdade, em Moscou, o que está mais presente é o futuro, que todos aqui estão fabricando.

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