O meu motivo consciente para essa visita a Moscou
é a avaliação de minha adesão ou não ao Partido. Mas eu sinto que, no
fundo, embora eu não as possa manifestar, as causas da minha viagem são outras
e não são tão minhas.
Aquela frase, “A viagem rejuvenesce as coisas, e ela envelhece a relação a si mesmo”, não sai da minha cabeça nem do
meu coração. O meu sentimento de estranhamento, comigo e com a cidade,
alienante, não cede sem retomar terreno. Por vezes, volta, como a pontada de um
recordista, na sua maior intensidade. Chega, pelo estreitamento que provoca, a
fazer arder o peito.
As esquinas, os prédios e os comportamentos
moscovitas são absolutamente novos; por outro lado, a minha dor mostra-se mais
velha; é uma dor de princípio, o horror de uma imaginação infantil.
O anúncio da chegada de Asja, em menos de
48h, não é, não imediatamente, para mim, um alívio. Embora eu a
queira muito ao meu lado, e deseje ardentemente a ocasião e o bem de um beijo, como
aqueles que trocávamos em Berlim em toda intimidade e conforto emocional, a
visita anunciada de Asja aumenta a minha ansiedade. Coloca-me um desafio que abala
o meu precário equilíbrio, assim que eu o reconquisto. Será possível eu me
sentir bem com ela? Será possível ela se sentir bem comigo, em Moscou? O que será
que ela pensa, apesar de eu não cogitar lhe perguntar algo sobre isso, da minha eventual adesão ao Partido?
Rapidamente, é curioso, deixa-se o centro de
Moscou, mesmo a pé. Depois de alguns poucos quilômetros, a cidade, quer
dizer, seu centro, desaparece literalmente aos nossos pés. O programa prevê a construção de
moradias e a complementação da urbanização. Por enquanto, parece apenas uma
promessa a se realizar num futuro distante. É verdade, em Moscou, o que está mais
presente é o futuro, que todos aqui estão fabricando.
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