Conhecimento do inexistente

Conhecer o que não existe, esta parece ser uma pretensão implausível. Como, afinal, saber da verdade do que não se dá?

Os adversários de Maimonides tentavam refutar a ideia do conhecimento divino a respeito dos indivíduos, a absoluta oniciência divina, com a seguinte objeção, que tange o conhecimento do inexistente.

Se Deus conhece tudo, Ele conhece os indivíduos antes mesmo de existirem. Isso implica que há conhecimento do que não existe. Mas, conhecer o inexistente é impossível. Portanto, Deus não conhece tudo.

Esse argumento é reforçado por um outro, que lhe é anterior.

Se Deus conhece tudo, Ele conhece os indivíduos que passam a existir. Mas, ao conhecê-los, ele varia seu conhecimento. Ora, Deus não muda, é imutável. Portanto, Deus não conhece tudo*.
Com isso, estes adversários pretendem provar que Deus conhece apenas a si mesmo, não conhece o terrestre, e não cuida para o que acontece no mundo.

Maimonides concede, Deus não muda. Mas, Deus não conhece os indivíduos apenas quando eles passam a existir, Ele os conhece desde sempre. Assim, a passagem individual à existência em nada muda o conhecimento de Deus, que é o mesmo, eternamente.

Ora, isso implica ser possível o conhecimento do inexistente. Maimonides concede nisso. Para ele, porém, conhecer o que não existe não é um absurdo.

A afirmação de que só pode haver conhecimento do existente é típica da ciência positiva ou positivismo, e Maimonides é um teólogo-metafísico.

(*) MAIMONIDES, Moses. The Guide for the Perplexed. Trad. M. Friedländer. 2 ed. New York: Dover Publications, 1956 [1881, 1904]. Cf. Parte III, capítulo XVI, p. 280 ss.

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