Maimonides e a eugenia negativa

Muito lindas e inspiradoras são as opiniões de Maimonides sobre a proximidade entre a influência divina e o intelecto humano, entre o intelecto e o amor humano de Deus.

Mas, Maimonides (e isso é extremamente relevante para a sua probidade intelectual) leva ao extremo a conformidade de seus pensamentos racionais com a lei revelada (no seu caso, a lei mosaica, em outros, a shari’a).

Antes de prosseguir, uma definição. Eugenia negativa é a técnica de promoção do gênero, isto é, da espécie, mediante a eliminação dos indivíduos nocivos, defeituosos, que de algum modo exercem uma má influência sobre os outros indivíduos da mesma espécie.

Para Maimonides, os indivíduos nocivos, no caso da espécie humana e, mais especificamente, dos judeus, são os pecadores que pecam por presunção e desrespeito a Deus.

“Segundo a minha opinião, todos os membros da comunidade israelita que, com insolência e presunção, transgrediram qualquer preceito divino, devem ser condenados à morte” (III, XLI, 349).

E mais, os ignorantes e desobedientes, aqueles que não possuem qualquer dom intelectual e, ainda por cima, desobedecem a Deus, estes estão totalmente alheios à influência divina, que sempre é intelectual, e devem ser mortos [detalhe e motivo] para o bem da humanidade.

“[...] a ação da providência divina é proporcional ao dom do intelecto. A relação de providência divina, portanto, não é a mesma para todos os homens; quanto maior a perfeição humana que uma pessoa alcança, tanto maior é o benefício que ele retira da providência divina. [...] Na mesma medida em que as pessoas são ignorantes e desobedientes são deficientes daquela influência divina, nessa mesma medida sua condição é inferior, e o seu ranque igual àquele dos seres irracionais. Por esta razão, não era apenas considerado uma coisa sem importância o fato de matá-los, mas isso era mesmo diretamente comandado para o benefício da humanidade” (III, XVIII, 289)


Há diversos graus de proximidade a Deus. Os mais distantes são os que habitam fora do território de Deus, fora de qualquer influência divina, os que não possuem qualquer religião, nem racional nem tradicional. Estes não são seres humanos, estão abaixo da humanidade, embora acima dos macacos.

Pior do que estes, porém, mais nocivos, são os que habitam o território de Deus, mas voltam suas costas para Ele. Possuem religião e pensamento, mas defendem falsas doutrinas. Em certas situações, torna-se necessário eliminá-los e extirpar, com eles, as suas falsas doutrinas, a fim de que outros não sejam desviados por eles da verdadeira direção (III, LI, 384).

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