O que significa o amor fati, o amor do fato, do destino? Aparentemente, duas coisas distintas.
Pode significar o amor para com o existente enquanto evento, ou seja, enquanto algo necessário, incontornável, é certo, mas sobretudo também previsível e humano. As coisas são como são, e são como são porque são desdobramentos de nós mesmos. As coisas são como são porque são como somos. Nesse caso, o amor se acompanha de um reconhecimento absoluto.
Pode significar outra coisa: o amor para com a essência do existente ou para com o existente enquanto acontecimento, enquanto algo necessário e imprevisível. Amor do fato, não como manifestação do humano, mas do divino. Amor do fato, porque ele em parte nos escapa. Nesse caso, o amor se acompanha de um estranhamento parcial, de um reconhecimento-estranhamento.
Vale ressaltar que, nesse segundo sentido, o amor fati não é o amor do milagre, acompanhado de um estranhamento absoluto. O acontecimento e o milagre diferem nisso que o milagre nega, perverte a ordem necessária dos acontecimentos, e pressupõe uma transcendência, um outro mundo, outros mundos possíveis.
Do milagre ao acontecimento, está a necessidade apenas inteligível, mas não imaginável. Assim como, do acontecimento ao evento, estão a representabilidade e a imaginação humanas.
O amor fati como amor do acontecimento é um amor intelectual. Como amor do evento é um amor imaginativo.
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