Já conversamos a respeito, mas vale retomar o assunto.
Dos três desejos mais vulgares, o amor às honras, o amor às riquezas e o desejo de prazeres sensuais, este último, a libido, parece ser o menos temível para Spinoza (cf. o início do Tractatus de intellectus emendatione), porque a libido, diferentemente dos outros dois tipos de desejo vulgar, compreende na sua própria satisfação o seu limite.
De certo modo, a libido conteria em si mesma (na sua realização) o seu freio.
Os prazeres dos sentidos, os que advêm da boa e farta comida, e da bebida inebriante, da visão do belo, do tato do aveludado e do lubrificado, do olfato da rosa e da audição da música harmoniosa, engendram desejos limitados pela sua realização. Na medida em que os realizamos, estes desejos perdem sua intensidade, e chegamos até mesmo a nos arrepender de tê-los satisfeitos, quando cometemos nisso algum excesso.
Por contra, o amor às riquezas e o amor às honras, quanto mais os satisfazemos, tanto mais desejamos satisfazê-los. Na sua satisfação o desejo só aumenta. Por não possuírem limites próprios, são desejos desenfreados e perigosos.
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