Para Spinoza, o suicídio não é só uma contradição performática, um ato que nega a si mesmo, é mais, é uma impossibilidade ontológica, não pode se dar, não acontece, não é.
Como poderia uma potência que só quer se afirmar, só quer saber de se afirmar, negar-se na sua ação, ser a causa mesma, afirmativa, da sua própria negação? Impossível. Logicamente e ontologicamente.
Ora, de fato, acontece que as pessoas se matam.
Então, ou somos também uma potência negativa, o que é impensável na ontologia afirmativa de Spinoza, ou não somos, propriamente, adequadamente, a causa mesma de nossa negação.
No suicídio, portanto, a causa mesma envolve outra coisa além do suicida. Isso é, a sua paixão, a paixão pela qual é tomado.
O sujeito apaixonado já não é mais totalmente o sujeito, a causa própria de seus efeitos. Ele continua sendo causa de suas ações, mas apenas parcialmente. A outra parte compete à paixão, às paixões.
A paixão possui uma dinâmica própria, um conatus próprio, um desejo próprio de persistência, de afirmação, de desdobramentos, de efeitos. Ela é como um indivíduo, mas parasita. No sujeito, ela já é um fora.
A paixão envolve a potência do seu substrato, do sujeito apaixonado, mas enquanto a costura, em seu vórtice de paixão, com uma potência ou a marca de uma potência alheia. No eu, ela é já um outro.
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