“Para ser traduzida pela voz, como para ser apreendida, a poesia exige uma atenção santa. Deve-se dar entre o leitor e o auditório uma aliança íntima, sem a qual as elétricas comunicações dos sentimentos não ocorrem.”*
A poesia, aqui, se explica com base na ideia
de uma corrente elétrica (uma ideia provavelmente recente** na história da
física moderna) entre dois corpos sentimentais (almas?) em comunicação
(comunicação que se estabelece por meio de uma atenção “santa”, “íntima”, que
modera o materialismo da metáfora). A poesia seria transponível, passante de um
recipiente a outro.
Novamente, temos aqui um exemplo do materialismo metafórico – o recurso a uma imagem material para dar a ordem de uma coisa que, para o autor da metáfora,
é muito espiritual.
O movimento corrente da metáfora ideológica não seria o inverso: recorrer a imagens espirituais para explicar isso que é de ordem material?
(*) BALZAC, Honoré de. Illusions perdues. Paris: Gallimard, 2010 [1837-1843]. P. 106.
(**) Conferir: http://www.ampere.cnrs.fr/?lang=fr
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