Estamos convencidos (ao que nos parece; afinal, como podemos ter alguma certeza, depois de tanto caminharmos e nos enfraquecermos?) de que há filosofias e não a filosofia. Disso nos veio o gosto (ou a necessidade do gosto) pela mistura dos conceitos e pelos modos de caminhar, pela impureza do pensamento.
Cada filosofia é (parece ser) um caminho na linguagem. Mas a linguagem “é um labirinto de caminhos”*.
Por ser da linguagem, que é “um instrumento”**, uma ferramenta que trabalha o real, a filosofia é uma operação sobre o real. Depois de caminhar, o real já não é mais o mesmo, transformou-se. A filosofia trabalha o real ou parte do real, e o dispõe de um certo modo, por meio do qual, muitas vezes, novas realidades aparecem; velhas, desaparecem. Dizer que a filosofia produz o real talvez seja excessivo. Que as filosofias, no real, operam sobre o real, talvez mais ponderado.
Da nossa mistura decorre – como ocorre quando, sem um plano urbanístico mestre, vários arquitetos, várias equipes de engenheiros, operários, várias técnicas de construção agem em uma mesma cidade e em suas peças – que o real operado resultante é como uma Torre de Babel (muitas línguas, muitas superstições).
(*) WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophische Untersuchungen. Frankfurt: Suhrkamp, 2003 [1941]. #203. P. 134.
(**) Ibid. #569. P. 244.
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