Esterilidade ou fertilidade?



Qual seria a melhor condição para a afirmação de uma potência ou de uma virtude, a condição de esterilidade ou a condição de fertilidade?

A vida num ambiente estéril, rude e impróprio à vida fácil requer o exercício contínuo, permanente, do esforço, da concentração das forças, da prudência, da inteligência, dessas coisas que constituem a atualidade de uma potência, mas que, por outro lado, se a exigem, também a limitam, ou inibem.

A vida num ambiente fértil, favorável e próprio à facilidade do viver, tende à tranquilidade, ao gozo do existente, à dispersão, ao amolecimento dos músculos e dos espíritos, à sonolência, a todas essas coisas que enfraquecem o tônus de uma potência, mas que, por outro lado, se invertidas nessa sua tendência, se colocadas à serviço, podem (porque não constituem em si mesmas uma limitação) levar à exuberância da potência.

Resposta de Maquiavel (ao problema que ele mesmo coloca):
“Portanto, como só o poder dá segurança aos homens, é necessário fugir a essa esterilidade da terra e pôr-se em lugares fertilíssimos, onde, podendo os homens ampliar-se graças à uberdade do solo, eles consigam defender-se de quem os ataque e oprimir quem quer que se oponha à sua grandeza.”*
Entretanto, para que isso funcione assim, é preciso, segundo Maquiavel, ordenar uma zona de esterilidade na própria fertilidade, não tornando a fertilidade estéril, mas solicitando, pelo comando, continuamente, o exercício da potência como se fora num ambiente estéril.

Fazer com que os humanos exercitem, na fertilidade, sua potência, como se estivessem num ambiente estéril – essa é, para Maquiavel, a condição da exuberância da potência.






(*) MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. Trad. MF, revisão de Karina Jannini (e levemente alterada por mim). São Paulo: Martins Fontes, 2007 [1517]. I, 1. P. 10.



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