O liberalismo pensa: “cada um conta por um e
não mais do que um”. Ou, ainda: cada um é um “cidadão livre e igual”.
Entretanto, a
equivalência entre cada um produz a indiferença entre todos. O tecido social se torna homogêneo e
pulverizado. A vida social “retorna ao pó” de que é composta (às partículas individuais das
quais, pensa o liberal, o social é essencialmente feito).
Desse modo, a terrível serpente que vive por
dentro da máscara liberal é o individualismo (a ideia de que cada um,
individualmente, é uma substância, que pode ser
concebida per se e portanto deve ser autônoma –
o que significa que, economicamente, deve viver de seus próprios recursos e,
ético-politicamente, deve dar a si mesma as suas próprias regras).
E a consequência do individualismo é a
solidão.
E a consequência da solidão, no humano, é o
sentimento de insegurança, o desamparo e o medo.
E a consequência da insegurança é,
finalmente, a força amparadora (pastoral) do Estado – isso que acaba
por negar, ao menos parcialmente, a essência do liberalismo.
Assim, a consequência última do
individualismo é a sociedade composta por uma multidão de indivíduos e pelo Estado
– frias instituições do Estado (escolas,
hospitais, centros de assistência social, prisões, exércitos...) e indivíduos independentes uns dos outros como únicos elementos sociais.
Mas, a nossa valsa catastrófica não termina por
aí.
Contra o liberalismo e o Estado que dele
advém e, ao mesmo tempo, o nega, outras serpentes nos injetam seu veneno
mortífero: a força não liberal, a força de um conjunto vivo sem indivíduos que possam viver por si mesmos,
ou seja, solitariamente.
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