Colapso ou zênite do presente



Na língua hebraica, não há o tempo do presente. Os nomes das ações (os verbos) se referem ou ao passado (ad Praeteritum) ou ao futuro (ad Futurum).
A razão disso parece ser que [os antigos hebreus] não reconheciam senão estas duas partes do tempo, e consideravam o tempo presente como um ponto, isto é, como termo do passado e início do futuro; digo: parece que comparavam o tempo com uma linha, cujos pontos, certamente, deviam considerar tal como a extremidade de uma parte e o princípio de uma outra.*
A minha impressão (sentimento, opinião e interpretação) é exatamente oposta a essa. Para mim, é como se houvesse apenas o tempo presente, não pontual, mas gordo e envolvente. Parece-me que todos os pontos da linha (do plano ou do volume) estão copresentes, simultaneamente atuantes uns sobre os outros, embora meu olhar esteja fixo sobre um trecho dela, um segmento da linha ou do plano ao qual minha atenção se cola; todo o restante permanecendo, mas fora de foco. É minha atenção que divide e fragmenta o tempo. Meu olhar, que estabelece o foco. Meu passo, a distância. Sem que minha vontade, nisso, como em todas as coisas, tenha uma função determinante, ou atue autonomamente.



(*) SPINOZA, Benedictus de. Abrégé de grammaire hébraïque. Trad. Joël Askénazi e Jocelyne Askénazi-Gerson. 3 ed. Paris: Vrin, 2006 [1677]. P. 131, in fine.


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