Personagens do exagero: o Grande Culpado e a Grande Vítima
Há mais de um ano – desde nosso passeio pelo Boulevard de P.-R. – procuro uma maneira de expressar a ideia de que o sentimento de culpa e o sentimento de ser vítima são como dois lados de uma mesma moeda, podendo, com muita facilidade, serem invertidos um no outro.
Agora, encontrei-a, pela imaginação de dois personagens do exagero. A figura do Grande Culpado – que se acha a causa de tudo o que vai mal no mundo – e a figura da Grande Vítima – que se considera o objeto paciente de todo o mal do mundo.
A Grande Vítima, justamente porque se considera o objeto final de todo o mal, pode se representar como a causa final de todo mal e, assim, num giro, se tornar o Grande Culpado.
O Grande Culpado, por sua vez, dolorido por se reconhecer como a causa de todo o mal do mundo, ao carregar em si esta grande dor, torna-se, num instante, a Grande Vítima.
Mesmo nos casos menos exagerados, essa inversão afetiva contínua da vítima em culpado e do culpado em vítima ocorre, como ocorre, para os nossos olhos, a troca contínua da aparência da face e da coroa numa moeda que gira verticalmente sobre um plano.
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