A arte de governar o múltiplo dos indivíduos na modernidade baseia-se, cada vez mais, na compreensão (e na constituição) das relações causais desses indivíduos com o meio em que estão supostamente imersos. Isso é o que se compreende por biopolítica. O meio biopolítico é um meio natural, ligado à essência corporal do humano-animal.
Esse tipo de governo não é então uma ação direta sobre os indivíduos, mas principalmente sobre as condições do meio no qual seus corpos se encontram.
Essa naturalidade corporal do humano pode ser expressa também em termos incorporais, anímicos, psíquicos, como nesse trecho de Le Bon (1895): “Só a uniformidade dos meios cria a uniformidade aparente dos caracteres. [...] todas as constituições mentais contêm possibilidades de caracteres que podem se revelar sob a influência de uma brusca mudança do meio”*.
Basicamente, para Le Bon, qualquer carácter é um virtual em qualquer mente. As mentes se determinam pelo meio psíquico, o conjunto de sentimentos, opiniões e ideias circulantes em que estão inseridas. Trabalhar sobre esses elementos do pensamento, desde fora, desde o meio, é a forma de governar o múltiplo das almas, de produzir o seu carácter.
Apesar de ser um governo psíquico, o que Le Bon propõe é, historicamente, uma espécie de biopolítica. A charada da biopolítica está em compreender o por quê.
(*) LE BON, Gustave. Psychologie des foules. Paris: PUF, 1963 [1895]. Disponível em:. Acesso em: 04.04.2015. P. 17.
(*) LE BON, Gustave. Psychologie des foules. Paris: PUF, 1963 [1895]. Disponível em:
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