“Capitalismo selvagem”


“Selvagem”: amoral, agressivo, voraz, descontrolado, desmedido, incivilizado, ingovernável, destruidor.

“Capitalismo”: esse é o sentido que, acima de tudo, precisamos buscar?

A expressão “capitalismo selvagem” é analítica, e não sintética... O termo “selvagem” na expressão apenas evidencia uma propriedade essencial do primeiro termo (ora, para as consciências, isso não é pouca coisa!). “Selvagem” não se junta a “capitalismo” desde o seu exterior, não é um acidente do “capitalismo”. Ou há “capitalismo selvagem”, ou não há “capitalismo” tout court. Mas “não haver capitalismo” soa, em nossas circunstâncias, como uma expressão absurda, internamente contraditória, um escape da ordem da fantasia: um prazer puramente mental, sem desdobramentos efetivos na operação do real.

Muito bem... mas ficamos, paramos, nisso? E ficar nisso não seria a maior das fantasias?

“Selvagem”, nesse contexto, significa destruição. Se a destruição é da essência do “capitalismo”, então, não haveria no capitalismo nenhum lugar para Eros, nenhuma operação? Parece que há, sim. Podemos duvidar que o capitalismo opere a humanidade, que dê uma forma à realidade do humano, que faça obra ao mesmo tempo do real e do humano?

O par destruição-operação, ódio-amor, dor-prazer, constitui a essência do “capitalismo”. A oposição interna não impede a sua essência. Talvez seja, então, uma oposição aparente?

Destruição-operação constitui a essência atuante de toda coisa. De toda coisa finita.

Na essência da coisa infinita apenas o absoluto, o eterno presente no próprio fluxo das essências atuantes (ou em termos humanos: na própria história) – o trágico, para nós, é que esse eterno não é humanista, é supra-humano, humano e mais do que humano.

A evidenciação da destruição-operação na essência “capitalismo” indica que ele não é o absoluto, mas uma coisa (ou uma disposição, se preferirem) finita – quer dizer que, pelo menos, está ao nosso alcance.








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