Mito e história XI

A história, tal como ela conhece, é a narrativa das vitórias do efetivo. O efetivo é o que vence e derrota o que deve ser esquecido nos tempos.

A história é a narrativa das técnicas vencedoras na dominação da natureza. Mas a dominação da natureza, para ser efetiva, requer o esforço humano excessivo. Esse excesso só se alcança pela dominação dos humanos por outros humanos. A história, além de história das técnicas, é, portanto, a narrativa dessa dominação.

Assim, sob o efeito simples de um princípio do terceiro excluído, quando não há dominação, pode-se concluir que não há história?

“A propriedade essencial [...] da sociedade primitiva é exercer um poder absoluto e completo sobre tudo que a compõe, é interditar a autonomia de qualquer um dos subconjuntos que a constituem, é manter todos os movimentos internos, conscientes e inconscientes, que alimentam a vida social, nos limites e na direção desejados pela sociedade. A tribo manifesta, entre outras (e pela violência se for necessário), sua vontade de preservar essa ordem social primitiva, interditando a emergência de um poder político individual, central e separado. Sociedade à qual nada escapa, que nada deixa sair de si mesma, pois todas as saídas estão fechadas. Sociedade que por conseguinte, deveria eternamente se reproduzir sem que nada de substancial a afete através do tempo.”*




(*) CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. Trad. Theo Santiago. São Paulo: Cosac Naify, 2003 [1974]. Cap. 11. P. 228.

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