É possível ignorar a falsidade de uma opinião, sem afirmar, ao mesmo tempo, que se sabe que ela é verdadeira.
E isso de duas maneiras: eu ignoro a falsidade de algo em que creio; ou eu ignoro a falsidade de algo sem porém chegar a crer.
(1) Suponha-me diante da proposição A, na qual eu acredito. Eu ignoro que A seja falso. Ao mesmo tempo, eu não sei, porém, que ela é verdadeira.
A plausibilidade disso está na diferença entre o significado de saber e o significado de crer.
Dizer “eu creio em A” não significa o mesmo que “eu sei que A”.
Muitas vezes, confundem-se crer e saber. Em geral, esse é o problema com o fanatismo de qualquer espécie.
É nesse sentido que Spinoza, comentando a religião (Tractatus theologico-politicus, XIV, p. 162), diz que ela não requer tanto que consideremos os seus dogmas verdadeiros, mas apenas que ignoremos que eles sejam falsos.
(2) Ou ainda de um outro modo. Eu ignoro a falsidade de uma opinião porque não sei que ela é falsa. Mas eu tampouco me comprometo com ela. Apenas suspendo meu juízo.
Este é o passo, recomendado pelo primeiro movimento de Descartes, da liberdade de ser indiferente às simples opiniões. Mesmo assim, o prudente Descartes, por outro lado, aconselha que, momentaneamente, apesar dessa indiferença, nós nos comportemos conforme com as opiniões dos seres humanos entre os quais vivemos.
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