Aforismo é cinema


“A essência da obediência é a fuga!”

Há nessa ideia aforismática (como em toda ideia) uma espécie de elipse – no seu esplendor, algo fica encoberto. Mas o encoberto pela ideia está na ideia (se ela for verdadeira) como envolvido.

O elipsado é o que deve vir à luz na explicação (argumentação ou demonstração) da ideia. Explicação que, na expressão aforismática, se desenvolve no leitor (não no próprio aforismo), na medida em que o leitor é afetado pela ideia na leitura.

O caráter elíptico do aforismo e, simultaneamente, a sua verdade forçam o desenvolvimento da explicação no e pelo leitor.

Assim, pode-se dizer que é característico do aforismo envolver sempre a elipse.

Mas se, como alguns afirmam, a “arte da elipse” pertencesse ao cinema*, então o aforismo seria cinema.





(*) Contrariamente a Bazin. Conferir: BAZIN, André. Uma grande obra: Umberto D [1952]. Trad. Eloisa Araújo Ribeiro. In: O que é o cinema?. São Paulo: Cosac Naify, 2014 [1985]. P. 351.

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