O poder de sugestão de uma bela narrativa

Freud é, entre outras coisas, um grande contador de histórias de vidas humanas a partir de testemunhos. Histórias tão envolventes, na sua análise, que, depois de ler um certo número delas e estabelecer algum tipo de hábito com ela, tendemos irresistivelmente a desconfiar do sentido manifesto de tudo aquilo que nos contam nossos amigos e conhecidos, ou que nos contamos a nós mesmos, e a procurar, segundo as vias da análise, o verdadeiro sentido, originário e inconsciente, latente em tudo o que eles nos dizem, ou que nos dizemos. Lendo Freud, vamos nos tornando, como ele, analistas. E, quando disse “irresistivelmente”, quis dizer de modo automático e involuntário.

Creio que não haja o risco de que esse poder de sugestão (de ascendência mental), em mim, se prolongue por muito tempo. Bastará eu ouvir outros contadores, e dar-lhes um pouco de atenção, para que esse poder se dissipe. A minha sugestionabilidade, provocada por motivos mais estéticos do que intelectuais, não chega ao ponto de eliminar meu senso crítico em relação a Freud, como ocorre na hipnose em relação ao hipnotizador.

De todo modo, esse poder de sugestão de uma narrativa bem construída, na sua proximidade com a hipnose, me faz pensar no cinema.


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