“L’être de fuite”

L’être de fuite”*, é assim que Proust caracteriza Albertina e, talvez**, todos os seus personagens essencialmente inapreensíveis***.

Por si mesma, é uma expressão interessante: – “O ser de fuga”. O ser que é fuga, que é em fuga, que se constitui (na sua captura) por sua fuga. O ser que nos escapa em sua captura. Ao se dar à captura. Que capturamos como fuga.

Interessa-nos, ainda, a maneira como Drummond traduz a expressão – “ente de fuga”****.

Aparecem, na tradução, a diferença ontológica entre ser e ente e a opção do tradutor: – Proust, aqui, fala do ente e não do ser.

No entanto, de fato, que nos foge? O ser ou o ente? Capturamos eventualmente Albertina (ela cai em nossa rede apreensiva), mas o que acontece com o ser?



* PROUST, Marcel. Albertine disparue. Col. Folio Classique. Paris: Gallimard, 2009 [1923]. P. 18.

** Hélène Cixous: “mas toda pessoa ou toda coisa-pessoa, todo ser-pessoa que é, na Busca, é de fuga”. Che vuoi?, nº 9, p. 15.

*** Em oposição ao apreender (noein), na medida em que é pensar, moderno e corrompido, o ser-mesmo é o que se oculta. Originariamente, porém, apreender (noein) e ser (einai) são o mesmo. Conferir: HEIDEGGER, Martin. An Introduction to Metaphysics. Trad. Ralph Manheim. London: Yale University Press, 1987 [1953]. P. 136 ss.

**** PROUST, Marcel. A fugitiva. Trad. Carlos Drummond de Andrade. São Paulo: Globo, 2012. P. 38.

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