Nada parece mais real ou anterior ao próprio
real do que o espaço. Mas, o espaço, eu penso, se define no próprio jogo da
realidade, no qual o real se enuncia (ou no jogo da ficção). Isso fica evidente no teatro.
“Primeiro Ato
Grande salão que dá para o jardim. No primeiro plano, à esquerda, uma porta. Um pouco atrás, outra porta semelhante. No meio da parede oposta, uma grande porta. No fundo, uma divisória inteiramente envidraçada, com uma porta aberta, através da qual se percebe uma larga varanda coberta e uma parte do jardim, que é cercado por uma grade com uma pequena porta de entrada. Ao longo da grade passa uma rua. Do outro lado da rua, casinhas de madeira pintadas com cores claras. Em uma loja, ao final da rua, entram alguns clientes.”*
Aqui, o espaço, embora seja definido no início
da fábula, não é o seu pressuposto. Ao contrário, é a organização espacial que
pressupõe a fábula (o número de personagens, a sua ordem de entrada e saída de
cena etc.). É em função da fábula que o espaço se configura.
(*) IBSEN, Henrik. Les Piliers de la société [1877]. Trad. Moritz Prozor et alii. In: Ibsen: Drames contemporains. La Pochothèque. Paris: Librairie Générale Française, 2005. P. 67.
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