A cidade organizando a vida


A racionalização da vida – a coordenação eficaz e repetida de nosso espírito e de nossos gestos com os instrumentos e aparelhos dispostos pela cidade para os mais diversos fins, de tal modo que os fins da cidade acabam por se substituir aos fins do espírito – é “o mecanismo superposto à vida”*. E isso é, para Bergson, o cômico (le comique), o que nos faz rir.

No entanto, a vida racionalizada, ela mesma, quase não ri de si própria; porque, eficaz e repetida, já não é vida, já que “a lei fundamental da vida é a de não se repetir jamais!”**.

Assim, à medida que a racionalização da vida envolve mais e mais os corpos, ela deixa de ser risível. Ela chega então a nos fazer querer chorar?




(*) BERGSON, Henri. Le rire. Paris: GF Flammarion, 2013 [1900]. P. 88.
(**) P. 80.




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