Por que, afinal, preocupar-me e, até mesmo, sofrer prazerosamente com meus pensamentos, colares e alívios, sobre as oscilações pendulares de nossos laços intra-humanos, que, mais apertados, nos fazem massa, e, mais frouxos, multidão, se, no fundo do nosso ser, somos, incontornavelmente, indivíduos solitários e finitos, num universo infinito?
Os laços entre um ser e nós existem apenas em nosso pensamento. A memória, ao enfraquecer, os desfaz, e, apesar da ilusão, com a qual gostaríamos de nos enganar, e com a qual, por amor, por amizade, por educação, por respeito humano, por dever, enganamos os outros, nós vivemos sós.
PROUST, Marcel. Albertine disparue. Col. Folio Classique. Paris: Gallimard, 2009 [1923]. P. 34.
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