A noção de pós-verdade pressupõe uma certa concepção de verdade: a concepção científica da verdade objetiva, em que o objeto é o ob-jeto, separado, vivo-morto.
A era da pós-verdade, na verdade, quer dizer: a era da pós-verdade-objetiva, em que restam apenas imagens. Ninguém dispõe, ao modo da verdade científica, das naturezas dos objetos separadamente das suas próprias naturezas e portanto dos seus desejos.
Na era da pós-verdade, ninguém dispõe da verdade, ou se interessa por ela, mas alguns controlam as imagens.
Esse controle pode indicar uma situação de dominação extrema, que chega até o controle das ideias imaginativas, ao controle das opiniões, da imaginação... a hegemonia...
Mas nem tudo está perdido:
Se fosse tão fácil imperar sobre as almas como [é imperar] sobre as línguas [censurando-as], cada um [dos imperadores] reinaria em segurança, e não haveria qualquer império violento. Com efeito, cada um viveria segundo o engenho dos imperadores e apenas segundo o seu decreto julgaria do verdadeiro e do falso, do bom e do mau, do justo e do injusto. Mas isso é impossível, que o ânimo de alguém esteja absolutamente sob o domínio de outrem!*Nesse caso: a violência dos impérios aparece como índice das resistências, não exatamente como um mal.
(*) SPINOZA, Benedictus de. Oeuvres III: Traité théologico-politique. Paris: PUF, 2009 [1670]. XX, §1. P. 632. Livre-tradução. Grifo meu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário