“Para fora do labor, os humanos inclinam-se ao prazer”*.
Em Spinoza, esta fórmula latina não é uma máxima com finalidade moralista, mas uma descrição da verdade efetiva.
O labor é a quantidade de energia ligada ao esforço que cada um faz para a conservação do império, enquanto parte componente – isto é, enquanto parte de um determinado regime de relações de poder que garantem uma determinada distribuição dos bens produzidos em comum.
A fórmula latina manifesta que o labor e, por conseguinte, o império se contrapõem ao prazer... e os humanos, por natureza, tendem ao prazer e a se afastarem do labor, à medida que o labor e o que dele resulta, a conservação do império, resultem em dor.
A grande maioria das formas imperiais (sobretudo as mais hierárquicas, que propiciam uma desigualdade acentuada na distribuições dos bens e, portanto, dos prazeres) são regimes de dor, que envolvem, na sua constituição e na sua manutenção, o labor dolorido.
Inclinar-se naturalmente ao prazer – na preguiça ou na libertinagem –, nessas situações, é o princípio do não-agir ou do agir-não, pelo qual se expressa a resistência natural das partes aos regimes imperiais.
SPINOZA, Benedictus de. Oeuvres III: Traité théologico-politique. Paris: PUF, 2009 [1670]. XVII, §4. P. 541. Livre-tradução.
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