Do outro a narciso, de narciso à massa


Quando diante do mundo, a vida entre os iguais é uma espécie de suplício, dor e sofrimento, quando o mundo recusa ao indivíduo prazer, glória e riquezas, deixando-lhe apenas humilhação e fraquezas, é compreensível, para evitar a total falência e gerar um tanto de satisfação consigo mesmo, o recuo e a retroflexão, sobre o próprio eu, do amor aos outros e às coisas do mundo. Nessas condições, o próprio eu individual se torna objeto do seu amor (que, em condições opostas, está dirigido para fora, para o mundo); e o mundo, um reino de narcisos (essas flores cuja beleza interessa e apraz somente a si mesmas).

A intensidade retroflexiva da força amorosa (libidinal) é, porém, instável. Ao se acumular no eu, ela procura, ao mesmo tempo, cada vez mais intensamente, a sua destinação primeira: o fora. Mas, marcada pelo movimento de retroflexão, essa destinação impulsiva já não se pode dar no mundo na direção dos outros, da alteridade, da pluralidade. Ela precisa apenas repetir, ou refletir, o seu objeto (o eu) fora de si, identificando-se com o mundo. Nessas condições, só é possível amar o mundo se o mundo se torna o eu; o eu, o mundo. Isso é a forma da massa.






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