Diário de Moscou XXVII – a luta



Da minha mesa de estudos, apenas uma pequena parte permanece livre, desocupada. O espaço mínimo suficiente para pousar um livro de leitura aberto e para apoiar os cotovelos. O resto fica invadido por uma tendência de acumulação desorganizada de outros livros empilhados no tempo, anotações, rascunhos, fotocópias, agendas, instrumentos dos mais diversos tipos (grampeador, relógio, porta-incenso, régua, canetas e estojos de lápis, óculos, telefones, roteador, computador, disco rígido de memória, câmera fotográfica etc.), documentos, contas a pagar e já pagas, contratos, chocolate, garrafa de água, lembranças de viagens. De tal maneira que dedico todos os meus esforços diurnos a ampliar, contra essa desordem empilhada, as fronteiras do território desocupado. Sei que manter e aumentar a clareira sobre a mesa é a luta (na qual não me sinto solitário) para defender e expandir o território da livre-atenção.





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