“Superar a si mesmo” como regra política

A regra ética, “Superar a si mesmo”, pode ser uma regra política? Em certo sentido, sim.

Provavelmente não pode ser uma regra política (no sentido de uma regra universal comum, quando a superação é uma produção coletiva). É muito improvável uma coletividade política subsistir, se ela visa à superação de cada um dos seus membros (isto é, de todos, individualmente).

No entanto, nessa impossibilidade da superação universal, a coletividade, por vezes, concebe, produz e sustenta, politicamente, o verdadeiro soberano (o que supera):
– a desaparição de outros soberanos que não aqueles que ainda sobrevivem (em grande parte domesticados, reduzidos à razão) priva-nos da visão do “homem integral” [super-homem, aquele que supera o homem] que a humanidade de outrora queria ter, em sua impotência de conceber um sucesso pessoal igual para todos.*

As cidades de “outrora” sacrificavam-se para liberar seus mestres dos limites impostos aos cidadãos comuns. Pelo menos, eles podiam contemplar o que se supera.

Estas cidades, por suposto, não podiam ser democráticas. A democracia é a sociedade de seres humanos medianos, justos, isto é, que não tomam mais para si do que lhes é devido, humanos insuperados. Na democracia, quem se supera é condenado ao ostracismo.





(*)BATAILLE, Georges. O erotismo. Trad. Fernando Scheibe. Belo Horizonte: Autêntica, 2013 [1957]. ESTUDO II – O homem soberano de Sade. P. 192.

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