Sempre elogiar o acontecimento IV: aristotelizando...


Para Aristóteles, a atitude (a disposição para o agir de certo modo) não é uma disposição dada, mas uma disposição adquirida, através da formação cultural (paideia) e dos costumes sociais (êthos).

Quando essa disposição é filosófica, isto é, quando tem em vista um grau mais elevado do humano, uma excelência, uma virtude ética (areté ethiké), a atitude filosófica, como disposição, não é simplesmente adquirida, mas é uma tomada de posição e envolve escolha.

Aristóteles nos fala, talvez, de dois tipos de atitude filosófica (hexis, em grego; habitus, em latim), dois tipos de modo de ser e agir adquiridos pela prática refletida, pelo agir orientado pela reta razão (kata orthon logon). A atitude filosófica envolve um oportunismo e um circunstancialismo.

Um circunstancialismo, na medida em que, no agir, o humano filósofo está de tal modo disposto que retira, de quaisquer circunstâncias, o maior proveito*. Afronta o acontecimento cavalar, como Filipe, como amigo do cavalo, e diz: – melhor assim, pois assim... etc.!


Um oportunismo, em segundo lugar, porque, o amigo do acontecimento age oportunamente, isto é, na ocasião apropriada, para com as pessoas apropriadas, com referência às coisas apropriadas, pelo motivo apropriado, e da maneira apropriada(**).

Em que medida estas duas atitudes – (1) fazer de toda circunstância uma oportunidade; (2) agir oportunamente – constituem um único modo de ser e agir?

Na medida em que a atitude filosófica faz de toda circunstância uma oportunidade para agir oportunamente, na medida em que essa tomada de posição percebe, em cada circunstância, a ocasião, os objetos, as pessoas, o motivo e a maneira conveniente do agir.

O humano filósofo jamais deixa de agir, em nenhuma circunstância, mas age sempre oportunamente. 

Portanto, agir sempre não significa se mover sempre, e agir não significa se mover.




(*) Aristóteles. Nic. Eth. 1101a.
(**) Aristóteles. Nic. Eth. 1106b20

Nenhum comentário: