Vemos também a imaginação ser determinada somente pela disposição da alma (ab animae constitutione); já que, como experienciamos, [ela] segue, em tudo, as pegadas (vestigia) do intelecto; e concatena e conecta, umas às outras, as suas imagens e palavras, a partir de [uma] ordem, assim como o intelecto concatena e conecta, umas às outras, suas demonstrações.*O encadeamento das imagens, na imaginação, frequentemente, segue os mesmos princípios do encadeamento necessário dos conceitos (ideias adequadas que as imagens envolvem e, frequentemente, ocultam).
É por isso que, Freud, para justificar a necessidade do líder – no caso, Cristo – na perseverança da massa religiosa, levando em consideração que “a desintegração de uma massa religiosa não é tão fácil de observar”, pôde recorrer à literatura, a um romance inglês “que ilustra de maneira hábil e pertinente, esta possibilidade [de desaparecimento do Cristo] e as suas consequências [lógicas]”**.
No entanto, talvez Freud não tenha, com isso, se livrado totalmente das imagens, e alcançado, através delas, o conceito de massa. Ele parece colocar toda a ênfase essencial da massa no líder. Mas, a relação da massa com o líder – é o que eu suspeito – pode ser apenas acidental (ou contingente).
(*) SPINOZA, Benedictus de. Correspondance. Trad. Maxime Rovere. Paris: GF Flammarion, 2010. Carta XVII. P. 125.
(**) FREUD, Sigmund. Psicologia das massa e análise do eu [1921]. Trad. Paulo César Lima de Souza. In: Psicologia das massas e análise do eu e outros textos. Obras completas. Vol. 15 (1920-1923). São Paulo: Companhia das Letras, 2011. P. 52, in fine.
Nenhum comentário:
Postar um comentário