A confiança na democracia é diretamente proporcional à confiança na multidão. Não há como defender a democracia sem confiar na inteligência da prática da multidão.
Note-se, no entanto, que a multidão não é uma única. Há multidão de multidões. Cada uma é uma, segundo o seu engenho próprio, seu gênio, seu humor, seus traços marcantes, marcados, hábitos, história, suas práticas próprias.
Uma mesma multidão, aliás, passa por disposições diferentes. Ora se fecha. Condensa-se. Torna-se obsessiva. Endurece. Emburrece. Uniformiza-se. Ora se abre, se espraia, se torna mais complexa.
Há multidão que se preze, ame. E outras, que não. Podemos confiar numa multidão, num determinado momento, e, noutro, não. Confiar numa, e não na outra.
Mas, sobretudo, é preciso desconfiar dos processos (daqueles, por exemplo, espetaculares e eleitorais, que se passam por democráticos, sem o ser) que necessariamente emburrecem, obcecam a multidão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário